GOTA (ARTRITES): CONSUMO DE CEREJA

Substâncias

DIMINUEM AS INFLAMAÇÕES ARTRÍTICAS, DIMINUEM O ÁCIDO ÚRICO,


Efeitos

Sofre de gota? Coma cereja!
Publicação: 12/06/2004

por Décio Luiz Gazzoni*

As descobertas científicas associando alimentação e saúde constituem uma das facetas mais instigantes da C & T do agronegócio. Dessas pesquisas surgiu um dos nichos mais promissores da agropecuária, que trata dos alimentos funcionais e dos princípios nutracêuticos que lhes são característicos. Em alguns casos, a ciência resgata e comprova os efeitos de produtos da farmacopeia popular. Em outros, novas propriedades terapêuticas são descobertas em alimentos consumidos pela população.

Cereja

As cerejeiras em flor constituem um dos mais emocionantes cartões postais da primavera de Washington (EUA). Existem duas espécies de cereja: a doce (Prunus avium) e a ácida (P. cerasus). Trata-se de uma fruteira da família das rosáceas, a mesma do pêssego, da pêra e da maçã. Ela é originária da região do Cáucaso asiático, mas é cultivada no Ocidente desde os tempos de Cristo. Seu uso vai de tortas e outros doces, licores, ao consumo in natura.

Da vovó à C & T

Os alfarrábios da vovó indicavam a cerejeira (frutos e folhas) como diurético e para a prevenção ou eliminação de cálculos dos rins e das vias urinárias. Recentemente, o estudo de um cientista norte-americano demonstrou que substâncias existentes nas cerejas aliviam os sintomas das inflamações artríticas. O mérito do doutor R. Jacob, cientista do Agricultural Research System (ARS) na Califórnia, foi demonstrar os caminhos bioquímicos e os efeitos fisiológicos das substâncias com ação anti-inflamatória.

O estudo

Verificado o alívio dos sintomas de artrites, o cientista estudou o efeito do consumo de cerejas sobre a gota, uma forma hereditária de artrite, resultante de um distúrbio metabólico, caracterizado pelo excesso de ácido úrico no sangue e depósitos de seus sais nas juntas dos pés e das mãos. Os voluntários (sadios ou acometidos pela gota) consumiram 45 cerejas frescas no desjejum – no dia do estudo – sem comer quaisquer frutas ou outros vegetais assemelhados nas 48 horas anteriores.

Os indicadores

O cientista mediu a concentração dos sais do ácido úrico no plasma sangüíneo e na urina dos voluntários, por até cinco horas após a ingestão das cerejas. Os resultados foram altamente auspiciosos, pois, enquanto a presença de uratos no plasma diminuiu, a sua excreção pela urina aumentou. Na seqüência, o cientista analisou a presença de indicadores de que o sistema imunológico estivesse agindo sobre o processo inflamatório. Os indicadores foram a proteína C-reativa, o óxido nítrico e o fator de necrose tumoral alfa.

Os resultados

A proteína C-reativa, produzida pelo fígado, encontra-se em teores extremamente baixos no plasma de indivíduos sadios, porém aumenta rapidamente durante a vigência de qualquer processo inflamatório (presente na gota). O mesmo ocorre com o óxido nítrico dissolvido no sangue, suspeito de danificar as juntas artríticas. O fator de necrose tumoral alfa também se encontra em baixa concentração no sangue de pessoas sadias, porém aumenta quando o organismo está combatendo tumores que possam induzir um quadro inflamatório. As análises indicaram a ocorrência de redução dos teores de óxido nítrico e da proteína C-reativa, porém não houve alterações na concentração sangüínea do fator de necrose tumoral alfa.

Perspectivas

O estudo do doutor Jacob despertou muito interesse. Depois das descobertas iniciais, em 2003, outros estudos ampliaram o espectro de marcadores que estão sendo analisados e acompanhados, bem como o número de voluntários, com uma amplitude maior das faixas de idade e dos graus de intensidade de gota. Estudos como esses recuperam a sabedoria popular, mitigam o sofrimento de pacientes artríticos, substituem por cerejas o amargo e caro remédio químico e, ao final, abrem uma oportunidade de emprego e renda no campo, em especial para a agricultura familiar.

*Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja / www.gazzoni.pop.com.br