Antibiótico natural

Origem: O ESTADO DE MINAS

De uma resina retirada das plantas e elaborada na colmeia, as abelhas brasileiras estão produzindo para o mundo uma espécie de “ouro verde”, atualmente usado no tratamento de muitas doenças. Trata-se da própolis, um produto 100% natural e de ação reconhecida como cicatrizante, antiinflamatório e antibiótico. Com benefícios comprovados no tratamento de diversos problemas de pele e infecções na garganta, a própolis tem-se tornado o alvo de pesquisas em diversas áreas e em vários centros científicos do Brasil e do exterior.
Estudos de prevenção e tratamento do câncer e de um novo produto de ação anti-HIV são alguns exemplos. Segundo Alexandre Silva de Abreu, que trabalha na produção e beneficiamento da própolis há 25 anos e fornece o produto para cerca de 15 centros de pesquisa em todo o mundo, a própolis apresenta mais de 300 compostos que, ao contrário dos antibióticos convencionais, têm dupla ação, ou seja, combatem bactérias tanto no meio positivo quanto negativo, de acordo com o ambiente em que elas sobrevivem.
A presença desses compostos permite que a própolis proteja o organismo contra infecções oportunistas, mantenha o DNA das células sadias e estimule as células de defesa, os linfócitos. A própolis é, na verdade, um excelente antibiótico natural. Com tanto potencial, o produto está sendo usado na Universidade de Medicina e Farmácia de Toyama, no Japão, como antitumoral, tanto no tratamento quanto na prevenção dos diversos tipos de câncer.
Outra pesquisa que se tornou referência mundial cataloga os diferentes tipos de própolis produzidos no Brasil, estabelecendo sua origem botânica e atividade farmacológica. Foi dessa pesquisa que resultou o isolamento de uma substância – o ácido murônico –, patenteado na Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, cuja atividade farmacológica é considerada muito superior à do AZT. O estudo é do professor Yong Kun Park, da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp.
O assédio a Yong Park começou quando ele apresentou os resultados relativos à concentração de flavonóides nas amostras de própolis que enviara a colegas japoneses. “A própolis tem dezenas de vezes mais flavonóides do que qualquer vegetal”, garante.
VALIOSO Praticamente todas as civilizações antigas, nas suas terapias milenares, conheceram e utilizaram os produtos das abelhas como valiosos recursos medicinais. Em Belo Horizonte, diversas pesquisas também estão sendo conduzidas e uma das aplicações mais difundidas é na odontologia. A dentista Juliana Galvão Marques é uma das que estudam e aplicam o produto em seus pacientes. Ela afirma que a experiência clínica com o uso da própolis tem resultados extremamente positivos, especialmente na periodontia. Além da ação cicatrizante, outro benefício é o fato de funcionar bem como anestésico. “Em todos os pacientes em que aplico a própolis, a melhora observada é sempre mais rápida”, avalia.
Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), um dos estudos feitos em teste in vitro, mostrou que a própolis verde é bastante eficaz no tratamento de candidíase bucal em pacientes com HIV, a partir de amostras colhidas em pacientes soropositivos. Nas primeiras avaliações, o produto se mostrou mais eficaz que antibióticos disponíveis no mercado.
Além de investir na pesquisa, Minas tem se destacado na produção da própolis verde. Para Alexandre, a própolis verde do Brasil – e a mineira, em especial – é a mais valorizada no mercado. Existem no País cerca de 12 tipos diferentes de própolis. A produzida a partir do alecrim do campo foi eleita a melhor do mundo pelo governo japonês.
Produto seguro, a própolis não tem efeito colateral. No Japão, também é utilizada como suplemento nutricional e tratamento conjunto em quimioterapia